quinta-feira, 21 de março de 2013

Um dia no ano


Uma amiga disse, de longe: "O Futuro é Hoje"!
 
Por seu lado, a Felicidade existe quando acontece.
 
Sonhei um dia com uma Árvore jovem, delicada e verde, à luz do sol, do outro lado dos vidros da janela de um quarto vazio. Percorri o corredor e cheguei à porta que abri à hora do pôr-do-sol. Lá fora, um homem jovem, reclinado, apenas apoiando a cabeça sobre a mão, dobrado o cotovelo sobre uma pedra. Contemplava, com imensa tristeza no rosto sereno. Olhei ao longe e vi a minha árvore: transformara-se. Um tronco largo, copa densa e estreita. Eu não tinha cuidado dela, nunca mais a visitara.
 
Escuro.
 
Tudo isto é Poesia e pode acontecer na Primavera. 

Por Otília Ferreira

As pessoas e o Cinema

Hoje é daqueles dias em que não vinha com nada planeado para escrever, mas o recordar do encerramento do cinema Londres leva-me a lamentar com tristeza o fecho de tantas salas da Castello Lopes, o que levará muito pessoal ao desemprego, e também trará menos alternativa na oferta de salas de cinema. O cinema Londres, por exemplo, tinha umas cadeiras muito diferentes das habituais, pois afundavam-se quando nos sentávamos, e ainda um bar/restaurante de grande qualidade, que normalmente estava sempre com muita gente, deduzo que também irá fechar.
 
Ao mesmo tempo, por maior que seja o nosso choque, acaba por ser um bocado previsível, pois a relação das pessoas com o grande ecrã mudou imenso nos últimos 10 anos. Se houve muitas previsões que o Cinema iria acabar quando surgiram os videoclubes há mais de 20 atrás, com a maior oferta de filmes nos sistemas de televisão por cabo, em que muitas vezes estão à distância de um clique, e com o aumento da pirataria derivado da maior disponibilidade de vários géneros de filmes online, esse vaticínio passou a ser uma realidade.
 
Ir ao cinema hoje em dia (se compararmos com há umas décadas atrás) é caro, um valor acrescido se vai a família inteira, e também dá mais trabalho do que a maior parte das pessoas estão dispostas a gastar. Há menos paciência para procurar um filme em sala. Toda a gente reclama pelos cinemas terem sido movidos em larga escala para o interior dos centros comerciais (ver mostruosidades como o Colombo, ou os Dolce Vita), mas o que é verdade é que isso ilustra a relação das pessoas com a Sétima Arte hoje em dia - Ver filmes é muita giro, mas o que a malta quer é ver montras.
 
Por: Ricardo Martins

quarta-feira, 13 de março de 2013

RADIOFONIA OU RADIOMANIA


Old Days Radio ListeningHabituei-me muito à Rádio. Quando comecei a ouvir preferia a música erudita; mesmo a alocução individual, por estranha que fosse e, no cume, "mesas redondas" em que se debatia temática com exigências de uma linguagem corrente cuidada, inteligível ao ouvinte atento e contemplativo. As diferenças entre quem falava e quem ouvia podiam ser até abissais. Nada retive a não ser programação e uma excelente explicação, a par de um texto intemporal mas sem tocar o lirismo. Nem sempre o longe era perto, num percurso de sentimentos tão diversos que captava todas as ondas e cada onda em si.
 


Por Otília Ferreira

Qualquer coisa de diferente...

The Master, ou em português O Mentor, é um filme que teve algumas nomeações para os Óscares, mas que por razões misteriosas foi injustamente ignorado na entrega final dos prémios, e é bem melhor do que muita coisa que por lá andou.

O filme narra a estória de um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial (Joaquin Phoenix), que se vê inadaptado à realidade da América do pós-guerra, saltando de emprego para emprego, entregue aos prazeres sexuais fortuitos e ao vício da bebida, mas cuja vida irá mudar drasticamente quando se cruza com o líder de uma seita religiosa (Philip Seymour Hoffman).

Muita gente interpretou o aparecimento da seita familiar no filme como uma crítica à Cientologia, mas aquilo poderá ser qualquer outra nova religião que tivesse aparecido, e são muitas as novas seitas que aparecem todos os anos naquele país.

É um filme com uma dimensão essencialmente espiritual, sem se filiar em nenhuma crença específica, mesmo valores como a amizade e a confiança surgem encenados de forma fascinante, apesar de por vezes a relação entre os personagens principais não ser muito pacífica, resultando em conflitos físicos.

Não é um filme fácil, mas recomenda-se muito. Brilhantemente dirigido por Paul Thomas Anderson, e com três interpretações bastante intensas - Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams - irá fazer-nos pensar muito em questões fundamentais da nossa vida.

Por: Ricardo Martins

quinta-feira, 7 de março de 2013

O DESGOSTO

É triste. Só me ocorre dizer que é triste. É quando se cai no tédio, vencida por um cansaço que não existe, prisioneira do tédio sem resistir às agressões, piores que ilusões - as invencíveis certezas de que ainda desconheço a fonte.
 
A dedicação, a aplicação, uma responsabilidade que, sendo afectiva se transforma em reconhecer Seres, Espaços e em criatividade possível, permitem-me regressar a mim de calma plena e a sós (de direito mas não de facto) com a Razão.
 
Talvez aprenda a integração na sociedade como vivo bem no mar uníssono da multidão.
 
Sentir em verdade que tenho um dever restitui-me a alma que eu julgava no rumo de perder-se, de vender-se, de esquecer o conhecimento e identificar o desacato interior poderoso da agressividade.
 
Sabedoria, Amizade que ora lembro ora esqueço, não quero cair no poço. Água apenas e Aprendizagem.

 

Por Otília Ferreira