terça-feira, 17 de maio de 2011
Para ti, com ternura
- Senhora!: quase gritas tu; depois dizes...
E eu sinto-me tão pequena, tão insignificante.
Lavas energicamente o chão da padaria e, talvez, para que nem resquícios de farinha fiquem, de lá, se me olhas, não correspondes ao meu cumprimento.
És muito jovem, casada, com um filho pequeno já e, no grande restaurante, polivalente, em tarefas que desempenhas irrepreensivelmente, sempre igual a ti própria, a inspirar confiança.
E eu elevo à ternura que nunca partilharemos o sonho de também estar presente na formação cultural do teu filho, de vislumbrar um sorriso teu em horas de conversa amena, de afagar esse tom de voz que, tal como o meu já foi, se presentifica forte e inabalável.
Mas qual de nós derrubaria o muro, além do teu olhar tão raramente doce, além destas palavras que só pedem para florir?
Por Otília Ferreira
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