Neste Sábado, dirigi-me a Lisboa para ir à manifestação que estava marcada para as 17h no Saldanha. Cheguei um bocado atrasado, pois tivera de fazer umas coisas primeiro, a marcha estava já em movimento. A Avenida da República estava cortada para deixar passar a quantidade de pessoas que se manifestavam.
Por todo o lado, cartazes, bandeiras de Portugal, e bandeiras pretas de luto pelo país. Alguns rapazes e raparigas de megafone incitavam as pessoas com pequenas cantigas com rima contra Passos Coelho, ou contra a troika.
A marcha passou pelo edificio onde se encontra a sede do FMI, onde dizem que se geraram momentos de tensão, mas nessa altura ainda não tinha chegado. De seguida, o amontoado dirigiu-se para a Praça de Espanha, onde creio que o recorde de pessoas naquele dia foi batido. Gente de todas as idades, famílias inteiras, com bébés e crianças, pessoal mais sénior, ali se reuniu para se manifestar contra os cortes e a escassez de horizontes para o país.
Surpreendeu-me ver tanta gente da televisão, actores a manifestarem-se, tendo em conta que têm fama de não passarem dificuldades.
De seguida, o amontoado dirigiu-se para a Assembleia da República, descendo para o Marquês de Pombal. Pelo caminho, reparei em alguns bancos grafitados e com vidros quebrados.
Chegados à Assembleia, não tardou muito até deixar de se ver a calçada, o passeio não era suficiente para conter o mar de gente. A polícia de choque formava uma barreira impedindo a passagem para o parlamento. De vez em quando, os ânimos atiçavam-se, e ouvia-se uns estalos que se assemelhavam a tiros de revólver. Alguns arrancaram pedras da calçada e atiravam-nas sobre os polícias. Outros arremessavam garrafas de cerveja. Os gritos aumentavam e parecia que a polícia ia avançar sobre a multidão. Muita gente recuou com medo.
Alguns incitavam as pessoas a avançarem sobre o Parlamento. Por vezes, parecia que a violência ia escalar, mas rapidamente se desvanecia.
Eu cantei alguns cânticos e juntei-me nas palavras de ordem, aquilo funcionou quase como terapia.
Como constatei que ainda não se fazia revolução naquele dia, fui-me embora às 22h30, não sem um leve travo de amargura, pensando até que ponto a manif teria consequências.
Com um record de 500 000, só em Lisboa, orgulho-me de ter feito parte desse número, que penso que irá crescer mais ainda em próximas ocasiões, isto se o governo continuar a vergar-se face às ordens da troika.
Por: Ricardo Martins