Assinalando o Dia da Saúde Mental gostaríamos de deixar um grupo de reflexões feitas por nós, relativamente ao que pensamos:
Pensado um pouco à volta da doença mental, sintimos que quem está de fora devia ter a capacidade de se colocar no nosso lugar, e tentar compreender a nossa doença.
A sociedade está muito fria anda numa correria desenfreada, preocupada com os seus próprios problemas sem esta capacidade de olhar para o lado e compreender a doença mental. Sentimos que nos tratam como se fossemos uma população à parte, não querem saber apenas há muito medo e receio, o que nos coloca numa situação de estigma e de autoestigma. Este sentimento que nos exclui mas também de nos excluimos em relação ao que achamos de nós próprios, agrava toda a sintomatologia. Associados ao estigma são desenvolvidos comportamentos de vergonha, isolamento, e a manutenção da doença mental em segredo. Isto devido à imagem pejorativa que a sociedade tem acerca da doença mental, dentro da tradicional, mas estigmatizante, (in)compreensão da saúde mental, muito associada à imagem da "loucura".
Queremos, somente ser considerados tão validos como outra pessoa qualquer, mesmo que seja pequeno o nosso contributo, temos sempre algo a mais para dar e uma barreira a mais para superar.
É de facto uma doença que não se vê. Mas que se sente. Gostaríamos de salientar a necessidade de existirem infraestruturas tal como existe aqui na Unidade de Reabilitação do Cintra, com o apoio duma equipa multidisciplinar. Aqui reorganizamo-nos e damos sentido ao nosso quotidiano, quebrando a rotina do isolamento e da incapacidade.
Precisamos de mais investimentos ao nível da inclusão social porque para a nossa saúde mental é preciso trabalhar, quer seja, nas atividades terapêuticas que nos propõe, como em formações ou mesmo trabalho propriamente dito.
Relativamente à entidade trabalhadora, é necessário trabalhar no sentido de existir uma maior compreensão e uma maior flexibilidade, face às nossas dificuldades. Bem sabemos que vivemos em Portugal uma situação de crise e de emergência financeira, mas também nós precisamos de ser resgatados nas nossas vidas.
Outra reflexão que fazemos é acerca do preço dos medicamentos, era necessário reduzir o seu custo, ou então, reintroduzir as portarias que beneficiavam de isenção de pagamento para as doenças mentais crónicas. Pois o impacto da doença mental é devastador, afetiva e economicamente e não existem apoios aos quais possamos recorrer. Portanto, pensamos ser necessário existir um complemento/apoio que nos fosse atribuído, transitoriamente, para nos auxiliar a prosseguir e a melhorar a nossa situação, até estarmos mais autónomos e integrados na sociedade. Porque sem apoio da família como é que se consegue sobreviver com 250 Euros por mês de reforma por invalidez?
Por último, pensamos ser necessário existirem maiores avanços a nível da saúde mental, á semelhança do que acontece com outras áreas da saúde, mais investigação científica.
Não queremos ser coitadinhos queremos é ser compreendidos.
Por Ricardo Coias, Manuel Filipe e Mónica Castro